Jean-Baptiste Debret e Rugendas
Debret e Rugendas, o francês e o alemão que mostraram à Europa, no início do século XIX, o que era sociedade brasileira.
O pintor francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848) esteve no Brasil, no século XIX, a serviço da Côrte Portuguesa., integrando a Missão Artística Francesa. Em suas telas, o francês retratou as cores e os costumes do Brasil, com especial destaque para o regime escravocrata do país.
O alemão Johan Moritz Rugendas(1802-1858) chegou ao Brasil, em 1821, na expedição do Barão de Langsdorff, viajando pelo país a fim de coletar material para pinturas e desenhos. Assim, como Debret, deixou registradas cenas do cotidiano brasileiro, embora a maior parte de suas obras registre cenas paisagísticas.
Um dos maiores problemas dessa conceituação do artista viajante, é o fato desses artistas serem encarados como um conjunto homogêneo de artistas que retratam o olhar do estrangeiro sobre a América. A partir disso, não levamos em conta quem é o estrangeiro e qual é a sua formação. Quando aceitamos passivamente o conceito do artista viajante, não questionamos a trajetória e a singularidade de cada artista, o que limita a nossa compreensão do conjunto de obras produzidas por esses artistas nas muitas "Américas" percorridas por eles.
A produção de Debret no Brasil destaca-se por se opor à idéia de um Brasil selvagem e exótico, sempre enfatizando o espaço urbano e inserindo-o num contexto Europeu. Além disso, em sua Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, no terceiro volume, Debret revela seu otimismo em relação à colonização portuguesa no processo civilizatório brasileiro e no futuro da continuidade da Casa de Bragança no Brasil.
Outro artista que assim como Debret tem grande parte de sua obra caracterizada como pintura histórica é Johann Moritz Rugendas.
Rugendas desde criança, exercita o desenho e a gravura com o pai Johann Lorenz Rugendas. Entre 1815 e 1817 freqüenta o ateliê de Albrecht Adam, ingressando depois na Academia de Belas Artes de Munique.
Incentivado pelos relatos de viagem dos naturalistas vem para o Brasil em 1821, como desenhista documentarista da Expedição Langsdorff , registrando a vida colonial, paisagens e o sistema escravista, ressaltando a capacidade do negro em se misturar na sociedade brasileira.
Após deixar a expedição, Rugendas vai para a Itália (em 1828), onde publica Viagem Pitoresca, reunindo desenhos da vida observa novas técnicas como uso de cores e o esboço a óleo. Um aspecto importante dessa obra é a escolha de inserir nela o desenho da Junta de Pernambuco[1], ao invés de incluir na obra o desenho da coroação de D. Pedro I como Imperador do Brasil. Ao fazer essa opção, Rugendas demonstra simpatia pelos movimentos liberais de independência.
Em 1831, motivado pelo naturalista Alexander Humboldt Rugendas volta a América, viajandopara o México com um projeto de viagem por todo o Novo Mundo. No entanto, Rugendas se afasta da orientação de Humboldt de sair em busca do "monumental" (referente a natureza) e se aproxima das relações humanas nas colônias e retomando a temáticaliberal.
Durante sua permanência no Chile, Rugendas pintou a Batalha de Maipú ressaltando a vitória do exército libertador. Aproximadamente uma década depois, se ocupa com outra obra de teor similar, ainda mais radical dentre os processos de independência: O Desembarque de Francisco Miranda em La Guairá, quadro que mostra Miranda sendo carregado pelo povo num momento de vitória liberal.
O mais significativo exemplo de obras dedicadas a independência das colônias é O Regresso de Garibaldi depois da Batalha de Santo Antônio, que retrata um momento de luta no Uruguai em defesa da liberdade frente à ditadura de Juan Manoel de Rosas. Essa obra, assim como o desembarque de Miranda, presta tributo não só aos seus personagens, mas a um ideário de liberdade.
O Brasil e a América Espanhola
Ao analisarmos as obras de Debret e Rugendas, temos um panorama não só do cotidiano da sociedade colonial, mas também dos conflitos políticos vivenciados por essa sociedade. A partir das obras mencionadas é possível estabelecer um paralelo de comparação entre os processos de independência na América Portuguesa e na Hispano-américa.
No Brasil, a independência vem como um processo de continuidade da política portuguesa. D.João VI retorna a Portugal, mas deixa D. Pedro I no poder, na intenção de manter o domínio da Casa de Bragança nas terras americanas que brotavam revoluções pela independência. Além, disso, os políticos liberais brasileiros, também enxergaram em D. Pedro, um caminho mais fácil para a independência.
Na maior parte das colônias Espanholas, a independência só foi possível através de insurreições armadas, e significaram a ruptura e a negação do período colonial.
Ao passo que Debret opta pela organização e documentação da aclamação de D. Pedro I., a revolta representada por Rugendas no Brasil, a Junta de Pernambuco, que representava um ideário liberal mais radical, foi violentamente reprimida pelo Imperador.
Levando em consideração o conjunto de obras de ambos os artistas, observamos que a produção de Debret não apenas narra a continuidade da política portuguesa no Brasil, como contribui para que os personagens portugueses constituíssem símbolos nacionais. Enquanto Rugendas, na sua simpatia pelos ideários liberais, retrata uma América revolucionária, pintando os momentos cruciais dos processos de independência da América Espanhola e seus heróis libertadores.
Debret é o artista da continuidade. Rugendas é o artista da ruptura.
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